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Hoje em dia, os grandes mercados públicos estão em espaços fechados, mas muitos deles nasceram a céu aberto, nas praças e logradouros. Por isso, podemos dizer que o hábito de comer em mercados públicos está intimamente ligado com a cultura da comida de rua, que no Brasil existe desde os tempos do Império. O historiador Roberto Araújo, que também é bacharel em Gastronomia e professor do curso de Gastronomia do Instituto Federal do Ceará em Baturité,  nos fala sobre essa relação,q ue tem tudo a ver com o Mercado São Sebastião:

 

A expressão “comida de rua” tem sido utilizada na perspectiva de identificar alimentos e bebidas vendidos em vias e espaços públicos, direcionados, em geral, ao consumo imediato, podendo ser consumido também a posteriore, e que dispensa qualquer outro trato processual complementar, estando pronto para ser ingerido, degustado.

 

No Brasil, a prática de comer na rua pode ser observada desde os tempos do Império. Registros escritos e iconográficos, como os trabalhos de Debret e Rugendas, atestam o quão comum era a comercialização de comida em feiras e logradouros públicos de cidades brasileiras, particularmente Salvador e Rio de Janeiro. Em seu livro Arte de Cozinha, Cris Couto nos presenteia com relatos de Jean Baptiste Debret sobre o comércio de comida de rua nesse período:

 

“Nos mercados nas ruas e quitandas, negros livres e escravos abastecem cafés e casas e atendem transeuntes em diversas horas do dia. As vendedoras de milho, que nos mercados são negras livres, adornadas com braceletes de cobre e turbante de arrudas, que se ocupam de assa as espigas na brasa. Alhos e cebolas fixados em tranças de palha, são vendidos no mercado de peixe. (...), negros carregam suspensas em uma varra, as linguiças, “espécie de salsicha muito seca, sem gordura e fortemente apimentada” que, com legumes e carne de vaca fazem o “caldo gordo”. (...) Uma multidão de negras, “notáveis por sua elegância” transita pelas ruas da cidade vendendo aluá - bebida feita de água de arroz macerado e açúcar -, bergamotas em gomos e cana-de-açúcar em pedaços, conservados sobre toalhas umedecidas”. (COUTO 2007) p. 101.

 

A comida de rua, é, portanto, parte integrante de nossa trajetória histórico-cultural e do cenário alimentar da vida urbana brasileira. Segundo Pinheiro: No Brasil, este costume de comercializar comida nas ruas iniciou-se na época da Colônia e intensificando-se no século XIX, onde a propriedade escrava foi comandada para a produção e a venda de bens de consumo e de alimentos para vender nas ruas, organizada em trabalho coletivo.

Essa prática desenvolveu-se ao longo do tempo espraiando-se por diferentes logradouros púbicos sendo realizada em feiras livres, mercados, ruas, centros comerciais, portas de fábricas, disseminando, preservando e recriando aromas, sabores e práticas alimentares.

           

Os mercados públicos, como parte do cenário de desenvolvimento de uma comedoria popular, são equipamentos de convivência que tem uma estreita ligação com a vida cotidiana da população das cidades e particularmente aquela que habita em seu entorno. São espaços de relevante valor histórico, cultural e econômico. Mercado é lugar de tradições e costumes que perduram, diversificam e coexistem com as mudanças de hábitos e costumes. Nos mercados, em geral, são realizados diversos tipos de serviços capitaneados pelo abastecimento de gêneros alimentícios, mas também de utensílios variados, vestuário, artigos religiosos, artesanato, remédios oriundos das práticas medicinais populares, dentre outros.

 

Dessa forma, mercados são espaços ondes os traços mais marcantes da cultura do povo de uma cidade e de seu entorno, se materializa e se expões aos olhares e sensibilidades de seus visitantes.

 

No que concerne à alimentação um mercado oportuniza a descoberta e apreciação dos aromas, sabores e saberes concernentes à cultura e tradições alimentares do povo de uma região. Como centro de abastecimento revela os tipos mais comuns de alimentos e insumos. Como espaço de convivência oportuniza, em seus restaurantes, a degustação de pratos que estão diretamente relacionados às bases culturais da sociedade, aquilo que comumente se denomina “comida típica”.

    

 

Roberto J. de Araújo

Licenciado em História

Bacharel em Gastronomia

           

 

 

 

 

 

 

REFERENCIAS

 

CARDOSO, R. C.V et al. – Comida de rua e intervenção: estratégias e propostas para o mundo em desenvolvimento – Ciência & Saúde Coletiva, 14(4): 1215-1224, 2009

COUTO, Cristina. Arte de Cozinha: alimentação e dietética em Portugal e no Brasil (séculos XVVI-XIX) – São Paulo: Ed. Senac - São Paulo, 2001

DA MATTA, Roberto. Sobre o simbolismo da comida no Brasil. O Correio da Unesco. Rio de Janeiro, v. 15, n. 7, p, 22-23, 1987

PINHEIRO, E. A., SILVA, R.F.P da. Comida de Tabuleiro: as comidas de rua no cotidiano do recifense       

  

 

           

 

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